sábado, 16 de outubro de 2010

'Isqueiro'

Tabaco, o corpo dele cheirava tabaco. Roupas no chão e um cigarro entre os dedos. Ele só precisava disso. Não gostei de quando me apaixonei por ele - só fiquei sabendo semanas depois, quando o cérebro havia implantado a ideia. Gostava do jeito que o lençol enroscava nele, do cabelo desgrenhado e de quando falava com o cigarro no canto da boca. Não deveria ter aberto a porta. Melhor, deveria ter ficado em casa no dia que o conheci. Não sou uma boa pessoa. Sou louco, ansioso, impulsivo, imprudente e não cedo às vontades de ninguém. Às vezes, tenho a certeza que de o meu destino é ficar sozinho e que ninguém vai me adestrar. Sou o meu melhor amigo, mas também sou o meu pior inimigo. Consigo destruir relacionamentos de semanas em minutos. As palavras que uso são tão afiadas quanto a faca de Jack numa noite soturna em Londres.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

'Weakness'

Vejo sorrisos tortos em caras retas. Lágrimas de felicidade em caras de angústia. Vejo você em cada rosto que ignoro. Lembro, infelizmente ou não, do toque da tua pele quando lavo as mãos. Você ignora... Ignora todos os sinais que te mando. Quero te matar, mas ao mesmo tempo desejo o teu bem. Nosso relacionamento - se é que posso dar nome aos bois – baseia-se na confusão. O meu orgulho e o teu, não conseguem ocupar o mesmo espaço. Mas o curioso é que os dois ficam mansos quando ficamos juntos. Minha alma já é velha. Está cansada de jogos amorosos. Ela só está a procura de alguém que a faça sentir-se jovem novamente...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

'Ócio do avesso'

Falta areia na ampulheta, faltam os ponteiros no relógio, a bateria de lítio no contador digital e aquele pássaro simpático não canta mais pra mim. A vitamina D foge da minha pele, enquanto o tom prateado me induz noite adentro. Falta-me tempo. Não consigo folhear as páginas da minha crônica preferida ou degustar um café da manhã caprichado. Troquei os carboidratos pela fumaça do bom e velho cigarro. Minha cama não me quer mais, o lençol aprendeu a rejeitar minha pele e o travesseiro já não é tão confortável...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

'Uma lasca de um espelho quebrado'

- Quantas mudanças. Quem diria que isso tudo aconteceria em menos de três semanas.
- É, eles esconderam o ouro de mim.
- Mas você ainda não conseguiu tudo, certo? Sei que a tua felicidade, ainda está incompleta.- Devo admitir, mas, em partes.
- Não me engane.
- Não consigo te enganar. Você sabe melhor que eu.
- Hum, acho bom mesmo.
- Vou tentar, quem sabe consigo um progresso?
- Ou um belo regresso, não é mesmo?
- Pessimista...
- Sou apenas o teu reflexo.
- Às vezes, desejo que você não fosse nada meu, apenas alguém que encontrei pela rua.
- Nem tudo é perfeito.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

'Eu, eu mesmo e um espelho'

- Cansei. Na verdade, estou cansado. Melhor, sem paciência.
- Mas já?
- Não fala isso. Faz tanto tempo que não perco a paciência...
- É mesmo. Lembra da última vez? Você até chorou de tanta raiva.
- Então essa é a primeira vez que você concordará comigo?
- Nada é impossível.
- Você sabe que eu já penso o contrário.
- Você está uma merda.
- Por que será? A culpa é sua!
- Não, não, não. A culpa nunca foi minha. Ela é toda sua. Você fica matutando o dia inteiro para achar uma resposta plausível. Mesmo sabendo que isso não cabe a você.
- Você, você, você. Muda o pronome.
- Isso é impossível.
- Boa, começa a se contradizer.
- Eu posso, já...
-... Você.
- Garoto esperto.
- Não, você que é previsível.
- Será?
- Para de graça.
- Outra coisa que percebi. Pessimismo
- Da minha parte?
- Da minha que não seria, sou o otimismo em espírito.
- O que adianta o teu otimismo, se o mundo não quer que eu consiga a resposta certa?
- Talvez não seja a hora. Já parou para refletir sobre isso?

domingo, 11 de julho de 2010

'Reflexo'

- Você tem noção que isso está acabando com a sua vida?
- Tenho.
- Então por que não parte pra outra?
- Porque sempre que tento, acontece alguma coisa que me faz voltar atrás. Você acha que eu não gostaria de ser livre?
- Nessa altura do campeonato? Não sei.
- Ok, confesso que não quero me desprender.
- Sabia.
- Sabia nada. Você é o primeiro a se entregar. É por você que volto atrás
- Não minta. Assume que você é um fraco. Assume pra si mesmo.
- Não sou.
- Fala a verdade.
- Foda-se. A mentira é minha.
- E ela te deixa feliz? Mesmo não sendo verdadeira?
- Depende do dia.
- Você também sabe que está desperdiçando várias chances com esta aposta, não sabe?
- Claro.
- Vou te perguntar novamente: isso te deixa feliz?
- Atônito seria melhor.
- Otário.
- Quem sabe...

terça-feira, 22 de junho de 2010

'03:57'

[...] Os dois se enroscaram no tapete e trocaram carinhos por algum tempo. Pedro estava adormecido sobre o peito de João quando acordou escutando-o chamar um nome. Um nome que não era o dele. Levantou num salto e ficou ao lado dele, ouvindo o que dizia: - Para, Andre - sussurou João enquanto virava para a esquerda.

Surpreso, Pedro foi até a cozinha buscar um copo d'água e quando voltou, sentou-se no braço do sofá. Ele encarava a inocência de João. Confuso com o que acabara de ouviur, procurou o maço de cigarro. Abre uma banda da janela e pensa sobre quanto tempo não colocava um cigarro na boca.


Na metade do fumo, o garoto do tapete abriu os olhos:
- Estou em choque! Você fumando? O que aconteceu? Insônia?

- Algo do tipo - retrucou enquanto soltava a fumaça do trago.
- Entendo... Deite-se, quem merece a massagem é você.
- Não precisa, apenas me responda quem é André.
- Como?
- Não se faça de tonto!
- Um ex-namorado - falou num tom sério.
- Você ainda gosta dele? - perguntou com receio
- Nunca menti para você. Talvez sim - retrucou com medo e desviou os olhos.
- Fui fiel com você. Podia ter me poupado da verdade, doiria menos.
- Para te poupar de uma dor repentina? Não, antes tarde do que nunca. Quem ama também machuca.
- Quem ama cuida! - os olhos estavam cheios.
- É, mas você não pensou que amar também é querer a felicidade do outro, mesmo que seja longe dele.
- Por que, João?
- A resposta dessa é a mesma do porquê de você ter me escolhido.
- Não seja ridículo fazendo-se de coitado!
- Não preciso disso. Sempre soube que um dia te veria partir.
- Como você consegue ser tão frio?
- É pra você me odiar mais rápido e me esquecer mais fácil - uma lágrima caiu antes que pudesse ter controlado.
- VAI EMBORA E SOME DA MINHA VIDA!
- Se depender de mim, nunca mais terá notícias.
- Assim espero.


João juntou tudo em trinta minutos e antes de fechar a porta da sala, encarou os movéis e Pedro, depois pensou: "você vai sobreviver sem mim. Será difícil nos primeiros dias, pior nas primeiras semanas e agonizante nos primeiros meses. Mas sei que conseguirá. Afinal, enfrentou a família por mim. Rompeu preconceitos e barreiras para estar comigo. Sei que quando olhar para trás, verá uma cicatriz aberta, mas será por seis meses no máximo. Você é forte e só eu sei o quanto. Já não posso dizer o mesmo de mim." E fechou a porta.
- Não precisa mais me ameaçar, ou correr atrás do Pedro. Ele saiu da minha vida. Simplesmente acabou. Agora me esqueça.



João desligou o celular e chorou. Era uma noite acolhedora para os fracassados.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

'01:13'

Plausível. Quem sabe o futuro seja a felicidade dos dois? Só o tempo vai dizer. E se você se sente bem com ele, estarei feliz. Antes de tudo quero a tua felicidade e bem estar. Se você tiver de ser feliz com um cara que as pessoas achem que não seja o certo mas que você se sinta bem, você ficará com ele. Não te chamarei de escrota ou começarei a vociferar palavrões porque sei como é isso. Sinto saudade de uma pessoa ainda e não duvido que voltaria com ela se pudesse. Afinal, foi ao lado dela que aconteceram os momentos mais felizes que tive até hoje.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

'01:01'

A janela de alumínio estava entreaberta. Era inverno em São Paulo. Uma brisa gelada invadia o quarto iluminado pelo abajur, que repousava no criado mudo, do lado direito da cama.
- Chorando? – perguntou o garoto que estava encostado na porta.
- A história de Harvey Milk me comove – replicou o outro que estava deitado do lado esquerdo do leito.
- Devo concordar. Já comeu?
- Não, estava te esperando. Mas, já fiz o jantar.
- Que progresso. Você na cozinha – disse em tom zombeteiro.
- Pedro, para de ser babaca. Você sabe que sempre cozinhei. Só não faço mais vezes porque você monopoliza a cozinha.
- Quanto drama, João.
- A lasanha está no microondas. É de quatro queijos.
- Garoto esperto.
- O chefe me ensinou.

 
Pedro tirou o terno e ficou apenas de cueca boxer. João alternava os olhos entre a televisão e ele, que se sentia intimidado pelos olhares.
- Que foi? Alguma coisa errada?
- Nada, só estava pensando no quão sortudo eu sou.
- Já vai começar com essa história?
- Não é história. É a verdade.
- Discutiremos depois do jantar, porque agora, meu estômago está corroendo as próprias paredes.

domingo, 30 de maio de 2010

'04:39'

São 04h39min da manhã. Uma janela se abre no sexto andar de um edifício na zona sul de São Paulo. Um garoto moreno, na casa dos vinte anos, razoavelmente alto e magro aprecia a vista, enquanto traga um cigarro.
- Insônia? - disse outro rapaz moreno, também na casa dos vinte anos, só que mais alto e forte e que o olhava da porta do quarto.
- Pior. Dor de dente - puxando mais um trago do cigarro.

O garoto da porta se aproxima e o pega pela cintura. O que está fumando usa a mão desocupada para acariciar a nuca do outro.
- Vou pegar uma bebida para nós. Quem sabe, te faça esquecer essa dor chata.
- Aceito aquele vinho que tomamos ontem durante o jantar. Aproveita e traz o cinzeiro para mim, por favor? - esboçando um sorriso de canto de boca.
- O que vossa senhoria desejar - fazendo uma reverência.
- Bobo...

Segundos depois, ele volta apenas com o cinzeiro.
- Não quero que você suje o tapete, acabei de trocar.
- Sorry, Mr. Polite - num tom de zombaria.
- Fuckoff, bastard - mostrando a língua.

O cigarro acabou e ele ainda não tinha voltado com o vinho, João foi até a cozinha.
- Pedro, cadê o... Vinho?

Pedro havia arrumado a mesa e, no centro dela, colocou um castiçal.
- Era surpresa, você chegou tarde e reparei que não tinha comido nada.
- Droga, pensei que tinha sido discreto.
- Você nunca foi, mas me diga, por que chegou tão tarde?
- Já te contei como fica a redação no final do mês. Depois que mandamos a revista para a gráfica, o pessoal resolveu dar uma festa. Devo ter bebido duas cervejas, no máximo.
- Que agora serão misturadas com vinho.
- Estou em casa e do teu lado, qual o problema de uma leve embriaguez?
- Surpreendo-me com você. Sempre com a resposta na ponta da língua.
- Hábitos da profissão, meu caro - mostrou um sorriso torto.
- Sei... O poder de persuasão também é da profissão?
- Não, é charme mesmo. O que teremos para o lanche noturno?
- Macarrão com queijo. Aquele que você tanto ama.
- E que só você sabe fazer.
- Qualquer um faz igual - exibiu uma cara de indiferença.
- Ainda tenho minhas dúvidas. Afinal, não sei se todas, ou todos, possuem um moreno alto e forte que cozinhe melhor que o namorado.
- Chega de elogios por hoje, daqui a pouco vou suspeitar que já esteja bêbado.
- Tu sabes que nunca fui forte para bebida. Ao contrário de você, senhor dos destilados.

Pedro desligou o forno e aproximou-se, João o encarava com um sorriso sacana.
- Sei o que você está pensando e eu não deveria ceder a esse desejo.
- Quando um não quer, dois não brigam - sorrindo.
- Você me entorpece - Pedro sussurou no ouvido de João e ele estremeceu.
- Faço das suas, as minhas palavras, tigrão.
- Malandro, sempre sabe ganhar no jogo da sedução.
- Aprendi com você.

domingo, 23 de maio de 2010

'20:26'

- Não.
- Não, o que?
- Não quero.
- O que você não quer?
- Não quero que você vá.
- Mas preciso ir.
- Quem disse?
- Hm, o relógio.
- Quero que ele pare de funcionar! Já disse para você abdicar da modernidade.
- Impossível.
- Então é impossível?
- Sim.
- Farei greve de sexo, veremos o que se tornará impossível, meu caro.
- Não se atreva!
- O que vai fazer? Bater-me?
- Quem sabe algo pior.
- Do tipo?
- Te asfixiar.
- Já disse, abdica da modernidade e a greve nem precisa começar.
- Também já disse. É impossível.
- Por que?
- Porque já me casei com ela. Você não passa de um simples amante que preenche o meu ócio dominical.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

'Monólogos de Caio: despedida'

Bom, nunca me dei bem com despedidas. Acho que é isso. Por favor, não me chame de frio, muito menos de iceberg. Na verdade, estou me despedindo para te fazer feliz. Não posso me prender a você, sendo que é quase impossível te ter. Não, não chore. Sabe, você era meu porto seguro. Depositava em ti, todas as minhas loucuras, anseios e desgostos. Te abracei, te amei, chorei demais em teus braços. E não me arrependo de nada. Entenda que quero o teu bem, sempre quis. Você não vai sofrer mais do que eu, sofreremos de maneira igualitária. Mas, longe um do outro. Porém, garanto que você conhecerá uma pessoa maravilhosa, porque você é uma e merece isso. Terá filhos e eles correrão pela casa, num domingo à tarde, enquanto você prepara o churrasco. E eu? Estarei bem, pode ter certeza. E por último, lembre-se que, sempre fui seu. Com amor, Caio.

'Young Lecter'

terça-feira, 18 de maio de 2010

segunda-feira, 17 de maio de 2010

'Monólogos de Caio: medo'

Tenho medo, alías, quem não tem? Tenho medo da verdade. Do ontem e do amanhã, do hoje não, ele é muito recente. De ser só "aquele amigo". De me declarar para a pessoa que desejo. De perdê-la para outra. De me impor. De ser substituído. De amar. De abrir o coração e ele ser despedaçado novamente. De adoecer e não poder viver do jeito que quero. Medo de envelhecer e ver que a minha juventude foi jogada como cinzas ao vento. Medo de escrever alguma besteira. De tomar a decisão certa, mesmo sabendo ela é a errada. Medo de errar. De decepcionar quem amo, principalmente aquele, que vai viver comigo enquanto o destino desejar. Medo da morte, não sei o que virá depois dela, não sei se vou para o purgatório ou para o paraíso. Medo de ficar com as pessoas erradas e descartar as boas. Medo do mundo, do aquecimento global, do capitalismo e das pessoas egoístas. Medo da vida! De viver rápido demais e morrer jovem. Medo de ficar sozinho, virar um velho mal humorado, gordo e que só sabe reclamar da vida. Medo do amor, aquele sentimento que te cega e o deixa fazer as piores merdas, Mas, ainda quero amar. E por último, medo da minha mente. Do que ela pode me fazer pensar, ver, sentir... Desejar.

'She's Lost Control'

sexta-feira, 7 de maio de 2010

'Monólogos de Caio: não'

Você acha que estou feliz com isso? Acha que trato todos com desdém e fico feliz? Sabia! Você não me conhece. Não sabe distinguir quando me sinto ameaçado ou quando estou na vantagem. Se eu não te contar, você nunca vai adivinhar quando estou bem ou não. Por que não te conto? Não gosto de parecer fraco para os outros. Já fui pisoteado emocionalmente e esconder esses sentimentos é um jeito de me defender. Defender-me dos hípócritas, claro.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

'Monólogos de Caio: excitação'

Não existe noite tão gratificante como esta. O brilho prateado do luar, um céu negro e límpido, mas cheio de estrelas, e um vento gelado de cortar a alma. Você não sabe o quanto aprecio o frio. Acho-o majestoso. As pessoas se vestem melhor, tem mais disposição para tarefas e pro sexo. Ah, o sexo. No frio é bem mais gostoso. Lembro da diferença de temperatura dos nossos corpos. O seu era mais quente que o meu. E os beijos? Pareciam pequenos choques que incitavam a minha libido. Hoje você não está mais ao meu lado e por incrível que pareça, isso não me entristece. Te amei muito, te quis mais ainda, mas nosso tempo acabou. O que? Se eu voltaria com ele? Quem sabe. Sou orgulhoso, mas também tenho sentimentos. Coração é, e sempre foi, algo que me desarma. Chega, isso é assunto para outro monólogo.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

'Monólogos de Caio: raiva'

Porra! Não consigo disfarçar, sou imbecil demais, um simples babaca. Tem dias em que desejo ser um iceberg, sabe? Só para não deixar esse sentimento idiota me cegar. Queria minha visão de volta. Merda, por que fui tão impulsivo contigo? Você era mais um na multidão, quer dizer, não qualquer um, mas já vi tantos do seu tipo que deveria estar acostumado. Não sei, alguma coisa me chamou a atenção, mas por que você? É quase impossível te ter...

'Monólogos de Caio: frustração'

É, oi, tudo bem com você? Me desculpa por ontem, mas me desculpa mesmo. Sou assim, impulsivo, isso é algo que não consegui mudar... Ainda. Você me mandou mensagem, quer conversar? Ah, se aquilo que escrevi era pra você? Bem, já que estou fodido, era sim. Pode se afastar se quiser, vou entender o seu lado. Porra, só faço merda, sempre.

domingo, 25 de abril de 2010

'Monólogos de Caio: paquera'

Esperei, ainda estou esperando. Já vai? Mas é cedo! Fica, pelo menos por cinco minutos, prometo que não se arrependerá. O que? Se eu gosto de você? Bem, acho que não posso mentir mais (risada abafada). Sim, gosto e mais do que deveria. Foi estranho quando olhei para você, senti aquelas famosas borboletas no estômago, sabe? Merda, bebi demais, ou melhor, falei demais. Desculpa não queria te assustar...

'Marcella'

- Está cedo, volta para cama.
- Já passou do meu horário, preciso trabalhar.
- Esqueça o trabalho, fique comigo.
- Não posso.
- Te odeio.
- Não foi isso que você disse ontem à noite enquanto gozava.
- Ontem já passou, quero viver o hoje.

Irritada, levanta da cama, vai até a janela, acende um cigarro enquanto ele veste a calça jeans. Traga umas duas vezes e olha para o céu cinzento, perde-se em devaneios e o encara. Ainda com raiva, pega a camisa dele e a veste, traga mais uma vez e larga o cigarro no cinzeiro. Faz a última tentativa:
- Fica, garanto que não vai se arrepender - faz uma cara sacana -.
- Por isso não fico, me perco nas suas pernas e sei que elas me prenderão.

Marcella apela, apóia o pé esquerdo na mesa em que o cinzeiro está e começa a tocar-se, iniciando pelas coxas e aproximando-se do sexo dela, mudando a intensidade da respiração. Miguel a repreende com um olhar sério e ela corresponde com uma risada. Ele resolve assistir o espetáculo e senta-se na cama. Ela lança-lhe um olhar furtivo e ele intimidado pisca.

Ela fecha os olhos e começa a fantasiar que está no centro de um triângulo e em cada ponta há um homem, os dois que estão atrás devoram-lhe as costas, ela tenta virar, mas é impedida por um outro que a prende pela boca. Tenta enxergar os rostos, mas não consegue.

Por momentos sente-se vulnerável e gosta dessa sensação, gosta de sentir-se submissa na hora do sexo. Abre os olhos e nota que Miguel não está mais sentado e sai à procura dele. Vai até a cozinha e só encontra migalhas de pão sobre a mesa, corre até o banheiro e só encontra toalhas molhadas na pia. Possessa, ela berra os piores xingamentos para quem quiser ouvir. Ela acorda atônita e percebe que foi apenas um sonho.

Senta-se na cama, olha para Miguel que está dormindo e decide ir até a cozinha para preparar um café. Acha algumas contas debaixo do capacho da porta e reclama pela falta de dinheiro. Quando volta para o leito, percebe que ele está despertando. Deixa a xícara de café repousar ao lado do cinzeiro e acomoda-se aos pés dele. Ele abre os olhos vagarosamente e a cabeça dela vai em direção as pernas dele, deixando os lábios roçarem entre o lençol e sua pele. Para por alguns instantes, o bastante para ele reclamar:
- Seria mais vantajoso se não tivesse um lençol separando a sua boca do meu corpo...

Ela abre um sorriso tímido e puxa o lençol para si, ele afasta as pernas lentamente para que ela possa trabalhar direito. Explora as partes internas das coxas dele em movimentos longos. Os pés dele se contraem, seu subconsciente deseja que a boca dela acabe em apenas um lugar, e os minutos que ela considera como provocação, para ele são tortura. Ele aproxima as mãos da cabeça dela, primeiramente elas fazem chamegos no cabelo, mas depois, sugerem algo a mais e ela entende o recado aproximando-se do sexo dele.

Marcella o devora como se estivesse com fome, seus movimentos são rápidos, Miguel se prende no lençol, fecha os olhos e solta gemidos abafados. Ela se excita com isso e acelera os movimentos. A respiração muda, ele grita:
- PARA!

Ele a olha com uma cara de Jack Nicholson em O Iluminado e isso faz os pêlos do corpo dela se arrepiarem. Está ofegante, segundos se passam e ele vocifera:
- Agora é a minha vez e essas pernas não escaparão de mim.

Em pé e de costas para ela, ele a encosta na parede e afasta as pernas dela de maneira grosseira. O choque de temperatura dos corpos a deixa com tesão e as investidas rápidas dele a fazem gritar alto.
- Mais rápido, quero sentir você.
- Tem certeza?

Ele a pega no colo, a apóia na parede deixando-a trançar as pernas em suas costas, aumenta a velocidade das investidas e com alguns minutos eles gozam juntos. Extasiada, veste uma camisa dele, pega um cigarro e traga um gole do café frio. Ela deita no chão, ele se aconchega no peito dela e pensando alto ela deixa escapar:
- É Miguel, você é melhor que todas as minhas fantasias.
- O que você quer dizer com isso?
- Nada demais, não precisa se preocupar – e dá uma risada -.

domingo, 11 de abril de 2010

'18:36'

- Está cedo, volta pra cama.
- Já passou do meu horário, preciso trabalhar.
- Esqueça o trabalho e vamos ter um sábado de namorados!
- Não posso.
- Te odeio.
- Não foi isso que você disse ontem à noite enquanto gozava.
- Ontem já passou, quero viver o hoje.

'Sandman (Neil Gaiman)'

"Você já amou? É horrível, não? Você fica tão vulnerável. O amor abre o seu peito e abre o seu coração e isso significa que qualquer um pode entrar em você e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, para que nada possa lhe causar mal. Aí uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outro idiota, entra em sua vida. Você dá a essa pessoa um pedaço um pedaço seu, e ela nem pediu. Um dia, ela faz alguma coisa besta como beijar você ou sorrir, e de repente sua vida não lhe pertence mais. O amor faz reféns. Ele entra em você. Devora tudo que é seu e lhe deixa chorando na escuridão. E então uma simples frase como 'talvez devêssemos ser apenas amigos' se transforma em estilhaços de vidro rasgando seu coração. Isso dói. Não só na sua imaginação ou mente. É uma dor na alma, uma dor no corpo, é uma verdadeira dor-que-entra-em-você-e-o-destroça-por-dentro. Nada deveria ser assim, principalmente o amor.


Odeio o amor".

Sandman (Neil Gaiman)

'Domingo'

Ócio. Simples assim.

sábado, 3 de abril de 2010

'Aleatório'

Solidão, chuva, ansiedade, saudade, frustração, escuridão, vergonha, rancor, raiva, ódio, medo, alegria, felicidade, esperança, vingança e copulação.

sexta-feira, 19 de março de 2010

'Veneno'

Ontem tive a primeira aula decente de sociologia e o professor disse uma coisa verdadeira: uma mente apaixonada, é uma mente turva. Quando estamos com os hormônios fervilhando pelo nosso corpo, vemos o que queremos ver e sentimos o que queremos sentir. Isso seria uma armadilha entrelinhas, já que não sabemos se aquilo é verdadeiro. Nessas horas a mente podia usar uma toxina que nos desse a chance de recobrar os sentidos antes de fazer uma grande besteira.

sábado, 6 de março de 2010

'Intrigante'

Como postei, ontem foi um dia frustrante. Arranjei uma folga hoje e fui na feijoada de uma amiga. No ponto de ônibus, enquanto pegava o maço do cigarro, apareceu um daqueles caras típicos de boteco de esquina (que já possuem a face avermelhada pelo excesso de álcool) e para minha surpresa sacou o isqueiro e se ofereceu para acender o cigarro. Quando conseguiu, disse a seguinte frase: "enquanto seu fogo estiver aceso, o meu nunca vai se apagar". Pode parecer idiota, mas a frase veio na hora certa, já que minha fé estava meio abalada. E isso lembrou-me de outra frase que uma amiga muita querida disse: "todas as velas podem estar apagadas, menos a da fé". Enfim, coisas para se pensar numa madrugada de sábado.

sexta-feira, 5 de março de 2010

'Horrible'

Decepcionado comigo mesmo, apenas isso.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

'Intrigante'

Hoje de manhã, enquanto fumava, estava passando uma propaganda sobre 'Toy Story' em 3D e foi ai que me dei conta de quão frustrado eu sou. Nunca gostei de assistir esses desenhos clássicos. Por exemplo: Dumbo! Odiava quando passavam no maternal ou quando estava passando na televisão. Isso também vale para 'A Pequena Sereia' e 'Toy Story'. Se falar que 'Rei Leão' nunca foi um dos meus favoritos, serei apedrejado virtualmente, então digo que ele era tolerável. E nesta particularidade mora o fato intrigante: as partes que mais gostava eram as que o Oscar aparecia, com aquele jeito de malandro e cafajeste que encontramos em vários homens.

'Uma certeza incerta'

É, meu plano de postar todos os dias falhou, mas a vontade de escrever não. Digamos que dediquei o tempo em que estive fora em outras atividades, como por exemplo, passar na faculdade que eu tanto almejava. Mas a verdade é que tenho que agradecer a pessoa que cedeu esta vaga. Para ser mais justo, agradecimentos para a faculdade que acolheu este ser e que me fez feliz, ou triste quem sabe, ainda é cedo para ter uma opinião concreta, porém, certezas já são vistas e uma delas é que não terei tempo para respirar. Mas o que não fazemos pelo nosso futuro?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

'Michael'

Michael nasceu deficiente visual, devido a um problema durante a gravidez de sua mãe, ninguém sabe ao certo qual foi. Quando nasceu mal abria os olhos, e se fazia era por dois minutos no máximo. Michael foi diagnosticado com cegueira aos quatro meses, pois, quando engatinhava esbarrava nos móveis mais baixos. Não posso afirmar que ele tivera uma infância ruim ou até mesmo triste. Recebeu muito amor de seus pais e parentes, que estavam sempre por perto para ajudá-lo.

Uma coisa é certa, ele não tinha muitos amigos. A maioria era um bando de hipócritas (sim, hipocrisia existe até mesmo na infância) e idiotas com medo de pegar a cegueira por contato físico. Tolos. Mas neste ponto, Michael mostrava-se excêntrico. Não ligava para o que os outros pensavam, ficava analisando a situação pelos tons e cheiros. Ele sentia o cheiro da vergonha, da inveja, do ciúme e da raiva. Todos eles envasados em um único ambiente, o que deixava o ar viciado em sentimentos ruins. Em consideração aos tons, bem, Michael até que gostava deles. Adorava quando as crianças berravam, implorando por uma fralda nova ou até mesmo por comida. Neste aspecto, ele achava-se forte porque nunca berrara tão alto para pedir algo, já que sua mãe e ele mantinham uma ligação espiritual muito forte, pois ambos sabiam a hora de cada um.
 
Enfim, anos foram passando e ele desenvolvia-se como uma criança normal, feliz e bem cuidada, com uma maturidade a mais que as outras, o que era de se esperar por causa de sua doença. Invernos foram passando, dando a chance para as primaveras brilharem em suas cores exóticas. Numa bela tarde cinzenta de abril, Michael encontrava-se em seu quarto escutando LPs antigos, quando sua mãe subiu correndo as escadas e bateu a porta com força. Ele ficara assustado e perguntou atordoado o porquê de tal algazarra. Sua mãe sentou-se com ele na cama. Ele podia ouvir o barulho que as lágrimas faziam quando escorriam dos olhos dela e isso o deixou muito mais assustado.
Desesperado por uma resposta sacudiu sua mãe e ela começou a chorar com mais intensidade e falou entre um suspiro e outro que conseguiram um transplante de córnea para ele e que agora poderia ver o mundo com olhos e não mais com os ouvidos. A felicidade foi tanta, que Michael permaneceu atônito em sua cama, paralisado pelos pensamentos que ele achava que nunca iriam se realizar.
Muitos médicos assistiram ele durante os exames pré cirúrgicos, ou seja, Michael estava nas melhores mãos. Correu tudo bem no centro cirúrgico, sua operação foi um sucesso e comoveu muitas pessoas, já que agora, eles eram responsáveis pela felicidade dele. Permaneceu com ataduras na região dos olhos por alguns dias, o que o deixava mais e mais ansioso.
No dia da retirada, todos os parentes se reuniram no quarto para presenciar tal feito. Apreensivo e cauteloso, Michael ouvia e sentia claramente as respirações profundas e o cheiro de lágrima. Quando o médico começou a tirar as ataduras, ele começou a entrar em pânico, apertou bem os olhos e fez um trato consigo de só abri-los quando o médico autorizasse. Então veio o pedido, quando abriu os olhos, estranhou aquela luz intensa e aqueles vultos mal formados. Ai foram só lágrimas, só que de alegria. Ele saiu do hospital alguns dias depois e resolveu que seu primeiro passeio seria num cinema da cidade, assistir qualquer filme, ter o prazer de apreciar algo.
Andando pelas ruas da cidade, Michael prendia-se aos detalhes da natureza. Ao movimento que as árvores faziam quando eram tocadas pelo vento, pelo verde que elas refletiam quando a luz do sol iluminava seus ramos. Mas de repente, deparou-se com uma cena horrível. Viu uma mulher sendo assaltada por dois meninos. Correu em auxílio, mas nada pode fazer. Os meninos o jogaram no chão e chutaram-lhe a face. Ensaguentado e perturbado, chegou em casa aos berros, dizendo que preferia ter ficado cego sua vida inteira do que ter que presenciar tais ocorrências. A verdade era uma só, Michael não aguentava a realidade. Não aguentava a crueldade que certas pessoas exercem sobre outras, não aguentava ter que conviver com a pobreza, com a injustiça, a fome e a humilhação de alguns para conseguir um pedaço de pão.
Seus pais tentaram lhe reconfortar, mas não adiantou. O estrago estava feito. Ele trancou-se no banheiro, abriu o pequeno armário, pegou o frasco que continha seus remédios tarja pretas e ali mesmo, teve sua morte ocasionada por uma overdose de calmantes.

'Palavras Manjadas'

Toda rotina é igual. A hipocrisia só muda de casa. Todos os venenos podem ser destilados, mas a fonte é uma só. Raiva, inveja e ódio não nutrem nada; só te fazem perder o interesse pelo novo e assim, a sede pela vida. (G.C.)

'I Wanna'

I wanna be your lover. I wanna make you cry. And sweep you off your feet. I wanna hurt your pride. I wanna slap your face. I wanna make you scream. I wanna kiss your friends. I wanna make you laugh. I wanna dress the same. I wanna defend you. I wanna squeeze your thighs. I wanna kiss your eyelids. And corrupt your dreams. I wanna crash your car. I wanna scratch your cheeks. I wanna make you sick. I wanna sell you out. Want to expose your flaws. I wanna steal your things. I wanna show you off. I wanna tell you lies. I wanna write you books. I wanna make you cum. Two-hundred times a day. I wanna dry tears. Every time your sad. I want to make you proud. And play with your head. I want to take you out. Make you feel adored. I want to hurt you bad. Make you paranoid. I want to help you grow.

P.S.: Isso faz parte de um trecho de uma música, da qual esqueci o nome.

domingo, 3 de janeiro de 2010

'Abstinência'

Sinto falta... Sinto falta da minha criatividade extrema e da segurança que tinha quando escrevia. Hoje em dia não tenho mais, penso duas vezes antes de escrever tal coisa ou comentar sobre tal artigo. Minha liberdade foi limitada pelo emocional, minhas amigas foram presas em um cárcere que é controlado pelo receio. Eis que surge a dúvida: receio de que? Ou melhor, de quem? Sempre escrevi para apaziguar a raiva ou pensamentos obsoletos e nunca para agredir alguém de maneira subjetiva. Quero minha liberdade de volta. Quero sentir novamente aquela sensação que tinha quando digitava noite adentro. Quero me sentir como um animal selvagem correndo em campo aberto, farejando sua presa, sentindo seu medo exalando e assim, acionando suas respectivas endorfinas, a fim de agilizar a caça. Desejo me tornar aquele lobo feroz, que quando uiva para sua amante, faz as pessoas tremerem de medo.

'Recapitulando'

2009 começou com aquela ladainha de ser um ano da mudança, pois na numerologia o "11" significava isto, e realmente, os numerólogos acertaram. Não posso dizer que foram mudanças predominantemente boas, mas não foram as piores: perdi amizades, amores e familiares. Uns dos meus maiores heróis, já não se encontra mais em terra, mas não fico triste dele ter partido, e sim por não ter a chance de conviver mais com ele, de ter dado vários abraços, beijos e dizer que o amava, contudo tenho em mente que hoje ele sabe o quão grato eu sou pelos dias que passamos juntos. Este ano foi conturbado, mais emocional do que racional (com algumas descobertas boas e outras ruins), com festas e dias que fizeram o todo fazer a pena, que deram-me forças para seguir em frente, enfim, um ano para redescobrir amizades antigas e cultivar as novas.

"Federico García Lorca to Salvador Dalí"

'Remember me when you are at the beach and above all when you paint crackling things and little ashes. Oh my little ashes! Put my name in the picture so that my name will serve for something in the world.'