terça-feira, 22 de junho de 2010

'03:57'

[...] Os dois se enroscaram no tapete e trocaram carinhos por algum tempo. Pedro estava adormecido sobre o peito de João quando acordou escutando-o chamar um nome. Um nome que não era o dele. Levantou num salto e ficou ao lado dele, ouvindo o que dizia: - Para, Andre - sussurou João enquanto virava para a esquerda.

Surpreso, Pedro foi até a cozinha buscar um copo d'água e quando voltou, sentou-se no braço do sofá. Ele encarava a inocência de João. Confuso com o que acabara de ouviur, procurou o maço de cigarro. Abre uma banda da janela e pensa sobre quanto tempo não colocava um cigarro na boca.


Na metade do fumo, o garoto do tapete abriu os olhos:
- Estou em choque! Você fumando? O que aconteceu? Insônia?

- Algo do tipo - retrucou enquanto soltava a fumaça do trago.
- Entendo... Deite-se, quem merece a massagem é você.
- Não precisa, apenas me responda quem é André.
- Como?
- Não se faça de tonto!
- Um ex-namorado - falou num tom sério.
- Você ainda gosta dele? - perguntou com receio
- Nunca menti para você. Talvez sim - retrucou com medo e desviou os olhos.
- Fui fiel com você. Podia ter me poupado da verdade, doiria menos.
- Para te poupar de uma dor repentina? Não, antes tarde do que nunca. Quem ama também machuca.
- Quem ama cuida! - os olhos estavam cheios.
- É, mas você não pensou que amar também é querer a felicidade do outro, mesmo que seja longe dele.
- Por que, João?
- A resposta dessa é a mesma do porquê de você ter me escolhido.
- Não seja ridículo fazendo-se de coitado!
- Não preciso disso. Sempre soube que um dia te veria partir.
- Como você consegue ser tão frio?
- É pra você me odiar mais rápido e me esquecer mais fácil - uma lágrima caiu antes que pudesse ter controlado.
- VAI EMBORA E SOME DA MINHA VIDA!
- Se depender de mim, nunca mais terá notícias.
- Assim espero.


João juntou tudo em trinta minutos e antes de fechar a porta da sala, encarou os movéis e Pedro, depois pensou: "você vai sobreviver sem mim. Será difícil nos primeiros dias, pior nas primeiras semanas e agonizante nos primeiros meses. Mas sei que conseguirá. Afinal, enfrentou a família por mim. Rompeu preconceitos e barreiras para estar comigo. Sei que quando olhar para trás, verá uma cicatriz aberta, mas será por seis meses no máximo. Você é forte e só eu sei o quanto. Já não posso dizer o mesmo de mim." E fechou a porta.
- Não precisa mais me ameaçar, ou correr atrás do Pedro. Ele saiu da minha vida. Simplesmente acabou. Agora me esqueça.



João desligou o celular e chorou. Era uma noite acolhedora para os fracassados.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

'01:13'

Plausível. Quem sabe o futuro seja a felicidade dos dois? Só o tempo vai dizer. E se você se sente bem com ele, estarei feliz. Antes de tudo quero a tua felicidade e bem estar. Se você tiver de ser feliz com um cara que as pessoas achem que não seja o certo mas que você se sinta bem, você ficará com ele. Não te chamarei de escrota ou começarei a vociferar palavrões porque sei como é isso. Sinto saudade de uma pessoa ainda e não duvido que voltaria com ela se pudesse. Afinal, foi ao lado dela que aconteceram os momentos mais felizes que tive até hoje.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

'01:01'

A janela de alumínio estava entreaberta. Era inverno em São Paulo. Uma brisa gelada invadia o quarto iluminado pelo abajur, que repousava no criado mudo, do lado direito da cama.
- Chorando? – perguntou o garoto que estava encostado na porta.
- A história de Harvey Milk me comove – replicou o outro que estava deitado do lado esquerdo do leito.
- Devo concordar. Já comeu?
- Não, estava te esperando. Mas, já fiz o jantar.
- Que progresso. Você na cozinha – disse em tom zombeteiro.
- Pedro, para de ser babaca. Você sabe que sempre cozinhei. Só não faço mais vezes porque você monopoliza a cozinha.
- Quanto drama, João.
- A lasanha está no microondas. É de quatro queijos.
- Garoto esperto.
- O chefe me ensinou.

 
Pedro tirou o terno e ficou apenas de cueca boxer. João alternava os olhos entre a televisão e ele, que se sentia intimidado pelos olhares.
- Que foi? Alguma coisa errada?
- Nada, só estava pensando no quão sortudo eu sou.
- Já vai começar com essa história?
- Não é história. É a verdade.
- Discutiremos depois do jantar, porque agora, meu estômago está corroendo as próprias paredes.